Crianças de cristal
Uma crítica assertiva ataca o problema, jamais a criança. Aponta para o erro, não para a pessoa. Fala sobre o trabalho executado, não sobre o aluno. É objetiva, nunca subjetiva.
A professora disse para a criança: “Humm, não ficou bom, tá sem lógica. Melhor reescrever”. E a criança começou a chorar: “Eu não vou fazer de novo, vou deixar assim”. Crianças de cristal.
A crítica não foi à para a criança, mas para um trabalho que ela fez. Então por que o choro? Por que a recusa em refazer? Provavelmente é uma criança com baixa resistência à frustração. Na linguagem popular, “mimada”. Crianças mimadas não suportam críticas, broncas ou ordens mais duras. Parecem que são tão frágeis que quebram ao menor solavanco. Crianças de cristal.
No outro extremo, há crianças que choram escondidas, têm medo de fazer amigos, evitam situações novas e preferem o isolamento. São crianças que não confiam em si mesmas e não têm grandes expectativas em relação ao futuro. Possivelmente já receberam muitas críticas ácidas, comentários depreciativos e broncas em público. Foram diariamente desqualificadas. Falta-lhes até mesmo alegria para viver, pois sua autoestima está baixa.
Para compreender melhor como evitar esses dois extremos na educação das crianças, precisamos conhecer como a autoestima é construída de forma saudável.
A autoestima saudável é fruto de elogios adequados baseados em fatos e motivados pelo afeto.
É fácil cair no extremo oposto: crianças que só recebem elogios e jamais são criticadas. Quem só recebe elogios não suporta a dor da perda, não desenvolve maturidade para corrigir os próprios erros e se torna chantagista emocional: vive fazendo birra para ganhar mais atenção, carinho e novos elogios. Quando adulta, conviver ao seu lado torna-se insuportável.
Uma crítica assertiva ataca o problema, jamais a criança. Aponta para o erro, não para a pessoa. Fala sobre o trabalho executado, não sobre o aluno. É objetiva, nunca subjetiva. Vamos aos exemplos:
Nunca diga: “Você é um relaxado, olhe só que sujeira esse quarto”. Diga: “Que nojo esse quarto, que bagunça, olhe só quanta sujeira. Pode começar a arrumá-lo”.
Jeito errado: “Filho, você é um irresponsável, novamente não deu comida para o cachorro”. Jeito certo: “Filho, você não deu comida para o cachorro de novo!”. Evite: “Seu vagabundo, de novo você foi irresponsável, não fez a lição de casa nem as tarefas.”. Prefira: “Faça já a lição de casa e as tarefas que te mandei.”.
Nos três casos, o ataque à criança por meio de xingamentos (relaxado, irresponsável, vagabundo) foi eliminado, e a crítica foi dirigida diretamente para o problema. Esse é o segredo.
Se só elogiar não dá certo, como criticar da forma correta? A resposta é simples e direta: criticando assertivamente.
Agindo dessa forma, a criança pode consertar o erro e até receber elogios por ter feito o que fora solicitado. Se, por outro lado, ela tivesse sido humilhada, mesmo que fizesse suas tarefas ou consertasse seus erros, sua condição de humilhação não mudaria, ela não conseguiria deixar de ser relaxada ou irresponsável, já que isso não depende de suas atitudes, mas da opinião da outra pessoa. No caso apresentado no início de nosso texto, foi o que, corretamente, a professora fez: criticou a redação, não a criança.
Além da assertividade, há outra orientação que você deve levar em conta: críticas devem ser feitas em particular, jamais em público. Nada de falar dos erros de seu filho na frente das visitas, da avó ou dos colegas dele. A publicação das falhas de seu filho faz com que ele se sinta no centro das atenções de toda a família, já que tantas pessoas estão se envolvendo na situação. Isso incentiva a repetição do problema. Uma crítica assertiva e em particular abre espaço para o pedido de desculpas e para a afirmação mútua de afeto.
Critique do jeito certo, e as crianças terão muito mais chances de crescer com maturidade emocional e alegria de viver. Crescerão fortes, quase “inquebráveis” jamais serão “crianças (e adultos) de cristal”.
Referências: filho, filha, pai, mãe, professor