Meu filho lê, mas não entende o que leu
Transformar uma ideia ou um pensamento em um conjunto de símbolos (letras) é escrever. E o contrário, olhar para os símbolos escritos e transformá-los em pensamento ou em linguagem, é ler. São funções diferentes, e ambas precisam ser desenvolvidas.
Se uma criança aprender apenas a ler, terá problemas de interpretação, pois seu cérebro estará acostumado a transformar símbolos em sons, e ponto final. Esse problema pode ocorrer se o ensino da leitura for baseado na leitura não funcional, ou seja, o que se lê não funciona, não faz funcionar, não muda o mundo à volta da criança, não altera nada na vida dela, nem mesmo sua imaginação. Quando isso ocorre, palavras, frases, parágrafos, histórias, poesias, contos, metáforas são apenas sons, nada além disso. É preciso ensinar Língua Portuguesa de forma funcional, ou seja, os textos precisam fazer diferença na vida dos alunos.
Como incentivar a leitura e a escrita?
Por exemplo: uma carta ao senhor mais idoso da cidade, que tenha estudado na escola, para que venha ser homenageado e compartilhar um pouco de sua vida e de como era na época em que ele ali estudava, faz os alunos perceberem que não basta escrever por escrever, mas o texto precisa convencer aquele homem a vir à escola. Essa escrita não é apenas para colocar palavras num papel, mas para fazer com que uma pessoa venha se expor.
Escrever e depois ler uma carta desse tipo é um trabalho muito diferente de ler um texto de Camões sobre a ignomínia humana da coerção da vontade, quando se tem 9 anos. Camões terá seu espaço, mas não pode ser antes da paixão pela leitura e escrita ser desenvolvida!
Nesse caso, poderíamos dizer que a carta seria português funcional, enquanto o texto de Camões seria não funcional. Assim é possível perceber que uma criança pode apresentar dificuldades de leitura e escrita por ter aprendido de forma não funcional.
E se a criança tiver dislexia?
Por outro lado, a criança pode realmente ser disléxica, ou seja, não consegue ler e escrever com facilidade. Essas duas funções mentais estão com problemas em sua execução. Nesse caso, é preciso que um especialista avalie a criança e diagnostique de forma correta e responsável. A escola, sabendo da dislexia, pode avaliar a criança de forma oral em vez de escrita, pode solicitar trabalhos digitados (em que os mecanismos de correção ortográfica ajudam a corrigir os erros) em vez de insistir nos manuscritos. Pode dar mais tempo para resolver uma prova de História ou Geografia e tantas outras mudanças podem ser feitas para escapar dos seus efeitos.
Um disléxico não tem problemas de aprendizagem, nem problemas mentais, ele apenas tem dificuldade em ler e escrever. A escola que sabe disso adapta-se para melhor educar.
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