Pais e Filhos

Será que os adolescentes estão perdendo o jeito de conversar olho no olho?

Como os “teens” estão construindo suas amizades.

Amigos são aqueles que podem apontar com sinceridade nossas “pisadas na bola”. Os sinceros e profundos parceiros de caminhada. São os amigos mais profundos que falam o que precisamos ouvir e não apenas o que nos agrada. E são raros, pois é difícil construir vínculos tão profundos a ponto de abrirmos espaço para esse tipo de liberdade. Precisa ser de “mão dupla”, ou seja, a gente ouve, mas pode falar também. E deve.

E atualmente? Está tudo ok? Bem, em geral poderíamos dizer que as amizades dos jovens continuam sendo construídas e que apenas a forma como isso acontece é que está diferente. Mas tem algo que me preocupa: nossos adolescentes estão gastando muito tempo conversando por meio de aplicativos de celular, tablets ou notebooks .

Isso é um problema?

Um problema aparentemente inocente, mas que pode se tornar grave. Esse problema acontece quando alguém digita algo com que o adolescente não concorda, quando lhe apontam erros ou quando começam a falar de algum assunto que ele não gosta. Ele simplesmente bloqueia o sujeito, exclui os mais chatos e conversa apenas com os que ele considera “legais”. Desse jeito ele não aprende a ouvir críticas nem a lidar com elas. Muito menos aprende a argumentar e contra-argumentar, pois, em vez de criar uma explicação para sustentar suas opiniões, foge de tudo o que é contrário.

Pessoas que não ouvem críticas não aprendem a corrigir seus erros nem a crescer, pois têm a falsa impressão de que estão acertando em tudo, já que só recebem aplausos. Ficam estagnadas, já que não acham que precisam melhorar.

Amigos verdadeiros ajudam no amadurecimento.

Encarar a frustração, a raiva de ter sua opinião rechaçada, os sentimentos de insucesso ou de inadequação faz uma pessoa desenvolver maior controle sobre as emoções, maior maturidade. Não é preciso cair no extremo da frieza ou do comportamento excessivamente calculado, mas é saudável ter um controle mínimo que impeça explosões emocionais ou choros excessivos em situações mais formais ou ambientes mais profissionais, por exemplo. Pessoas maduras sabem relacionar-se de forma mais profunda, sem recorrer a manhas, birras ou chantagens emocionais como infelizmente vemos acontecer em muitos jovens adultos atualmente.

Assim, o que está faltando na vida dos adolescentes são amigos de verdade. Não aqueles que “puxam o saco”, mas os que dizem: “Ô cara, você tá pisando na bola, é melhor você cair na real e fazer isso… aquilo…” E isso ele vai precisar fazer pessoalmente, cara a cara, sem telas touchscreen entre eles.