Como disciplinar sem traumas uma criança
É importante que os responsáveis entendam que o castigo deve ser educativo, e não punitivo
Pouca gente fala desse assunto, mas é preciso informar e refletir sobre como disciplinar os filhos sem provocar traumas. Pode parecer pouco provável para alguns que um castigo faça mal, mas são inúmeros os relatos de crianças que chegam traumatizadas (e até deprimidas) ao consultório de psicólogos especializados. E o pior é que são parentes e amigos que percebem o comportamento alterado dos pequenos e recomendam a investigação.
Os pais e as mães, desinformados e, provavelmente, vítimas de abusos dessa natureza quando pequenos, acham natural e até necessário punir os filhos para educar. Na verdade, a criança precisa apenas entender que o que fez está errado e que deve mudar o comportamento.
Para evitar que a criança fique traumatizada, o primeiro passo é que pais, mães e cuidadores em geral entendam que o castigo, quando acontece, deve ser educativo, e não punitivo. “Um dos maiores problemas é que os pais e mães, estressados com outros problemas, descarregam nos filhos toda a raiva que estão sentindo quando elas fazem algo errado”, explica a psicóloga clínica Veruska Ghendov, especializada em neuropsicologia. Há casos em que a punição chega à agressão física e até à privação de alimentos.
Mas nem é preciso ir tão longe para deixar uma criança traumatizada – insultar, rotular, ofender, humilhar ou até intimidar é muito grave e pode limitar o desenvolvimento emocional da criança. Para a psicóloga Veruska, a força e a raiva de um adulto são desproporcionais à criança e podem prejudicar o processo educativo, cujo principal objetivo é fazer com que ela cresça emocionalmente saudável.
Como aplicar o castigo?
O primeiro passo é avaliar se a situação precisa de castigo realmente ou se basta explicar, com calma e olhando nos olhos da criança, que a atitude não foi legal e que ela precisará deixar de agir daquela forma. Nos casos em que é preciso aplicar a punição de fato, os pais e mães precisam se certificar de que a criança entendeu o que aconteceu, por que está sendo castigada. Caso contrário, o efeito é nulo.
Quanto ao tipo de castigo a aplicar, a especialista recomenda que pais e mães vejam aquilo que a criança mais gosta para dar o castigo. Assim, se curte um desenho, ficará sem assistir; se gosta de jogar videogame, terá o tempo reduzido, e por aí vai. E, em relação ao tempo, Veruska acredita que vale aquela regra dos minutos: uma criança de 3 anos fica três minutos de castigo, e os minutos vão aumentando conforme a idade. Não adianta ficar muito tempo porque perde o efeito.
“Nunca devem ser usados castigos ou falas que coloquem em dúvida o amor dos pais e mães pelos filhos em função da atitude, nem penas severas demais, como todo mundo foi passear e só a criança ficou. Elas passam a se sentir rejeitadas”, disse a psicóloga clínica.
O melhor caminho para educar os filhos é o do amor. “É preciso exercitar o amor, abraçar, dar colo e dizer eu te amo, faz bem para os adultos e para as crianças também”, acrescenta Veruska. Em tempos de tantos afazeres e preocupações, o ideal é dedicar tempo de qualidade aos filhos e se deixar conduzir pelo amor.