A mágica do “espere” e do “não”
Crianças precisam aprender a deixar para depois as brincadeiras ... para que possam fazer primeiro a lição de casa, lavar a louça, arrumar o quarto, enfim participar das atividades domésticas.
Quando eu era pequeno (sim, já tive menos de 2 m), minha mãe dizia que as duas palavras mais importantes para uma criança bem-educada eram o “Espere” e o “Não”. E ela fazia com que meus irmãos e eu aprendêssemos diariamente seus significados.
– Mãe, posso ligar a TV?
– Não.
– Quando dá pra ligar?
– Depois que vocês fizerem a lição de casa.
– Mas eu não tenho lição, só o mano.
– Então espere ele terminar, depois vocês assistem.
– Mas… – e a mãe já interrompia a argumentação infantil:
– Eu já disse não. Agora é só esperar.
E pronto, não tinha negociação, choradeira, birra ou qualquer tentativa de convencer nossa mãe. Ela era irredutível, consistente. Aprendemos que não adiantava absolutamente nada chorar, pois iríamos perder tempo e deixar de brincar com outras coisas. E sem crises aprendemos a obedecer e a aceitar tanto o “não” quanto o “espere”.
Em linguagem mais científica, ouvir e aceitar os “nãos” significa desenvolver resistência à frustração. E um adulto precisa ter aprendido isso. Quem não tem essa característica da maturidade não consegue ouvir uma negativa do chefe numa tentativa de negociação de salário e acaba criando um conflito desnecessário que facilmente poderia ter sido resolvido em outra oportunidade. Adultos imaturos não sabem perder e culpam a sociedade, o Brasil, a situação econômica, o parceiro, os pais, os filhos… ou seja, não assumem as próprias falhas, não as corrigem e não se organizam para acertar da próxima vez. Adultos infantilizados.
Quer ajudar seu filho a ser maduro e a ter sucesso na vida? Ensine-o a esperar e a ouvir “não”. Eles aprendem, sim.
O “espere”, ousando ser um pouco mais acadêmico, é “adiar a satisfação do prazer”. Crianças precisam aprender a deixar para depois as brincadeiras, a sobremesa, a TV, a internet, o videogame, para que possam fazer primeiro a lição de casa, lavar a louça, arrumar o quarto, enfim participar das atividades domésticas. Mais tarde, saberão desligar as redes sociais para estudar durante 4 a 5 horas, além da escola, quando estiverem se preparando para o vestibular ou outros concursos. Depois, na vida adulta, dificilmente procrastinarão. Quem não aprende a esperar também não aprende a se esforçar, ser persistente, dedicado e trabalhador. E a vitória nunca vem “de graça” ou “de mão beijada” como agora ouço minha mãe dizendo a seus netos.
Recentemente, numa entrevista, o primeiro colocado geral num dos vestibulares mais concorridos de nosso país disse que precisou desconectar-se das redes sociais para poder se preparar melhor. E quem consegue deixar os amigos para depois? Desligar o videogame? Adiar encontros com a namorada ou namorado? Deixar de assistir aos infindáveis vídeos engraçados à disposição na internet? Somente quem sabe deixar o prazer para depois e encarar as responsabilidades antes. Novamente me vem à memória uma das frases sábias de minha mãe: “Primeiro o dever, depois o prazer”. Simples, mas funciona.
Pais e mães sábios ensinam seus filhos a “esperar” e a ouvir os “nãos” da vida.
Voltando às experiências recebidas na infância, certa vez fomos a uma lanchonete pela primeira vez. Pude escolher meu sanduíche e acompanhar os pedidos dos meus irmãos. O garçom foi levar as comandas para a cozinha enquanto nós ficamos sentados à mesa esperando os lanches chegarem. Nenhum de nós saiu correndo em volta das mesas, não atrapalhamos outros clientes, não gritamos nem choramos. Apenas esperamos. Pacientemente. E foi tudo muito delicioso.
Vá a uma lanchonete e observe o comportamento da criançada de hoje: muitos “príncipes” e “princesas” simplesmente discutem com os pais sobre o que querem ou não comer, gritam quando contrariados, correm entre as mesas, perturbam outros clientes e, quando chega finalmente o lanche, dão uma mordida e já saem correndo para brincar. A situação ficou tão grave que muitas lanchonetes colocaram parquinhos dentro do estabelecimento para que os garçons não surtassem e as mães pudessem ter uns minutos de paz. Fofuchos que não sabem esperar. Não sabem deixar as brincadeiras para depois.
Quer ajudar seu filho a ser maduro e a ter sucesso na vida? Ensine-o a esperar e a ouvir “não”. E isso pode ser ensinado desde muito cedo. Eles aprendem, sim.
Referências: criação, pai, mãe, filho, educação.